Maria Isabel Adami Carvalho Potenza
Natal
Data: 16/12/2021
Edição: 80
Vinte séculos depois daquela misteriosa noite em que o Senhor desceu à Terra, a Criança de novo se mostra aos homens - pequenina, humilde, frágil, paciente. De novo bate em todas as portas, como havia a Mãe batido nas hospedarias de Belém. De novo, achega-se o Menino a todas as almas, esperando acolhimento, carinho, amor. Os mais humildes o reconhecem de pronto, tal como os pastores que, maravilhados com a Boa Nova trazida pelo Anjo, depressa acorreram a adorar o recém-nascido. Outros, atarefados com os interesses do mundo, não têm tempo de prestar atenção a um Menino assim nascido, sem insígnias, sem brasões, sem ouro nem prata. Mas, apesar da cegueira dos homens, o Natal volta sempre. Talvez seja mesmo fruto da doce presença do Menino esse contagiante ar de bem-querer que perpassa em todas as casas e em todos os ambientes, que alegra a todos na efusão carinhosa da troca de presentes e votos de paz, que vão e voltam carregados de simpatia e esperança. Apesar das desavenças e dos ódios, que explodem guerras por toda parte e multiplicam os artefatos destruidores, a espiritualidade de Belém renasce aqui e ali e pode até dar-se o milagre de que, num instante, todos entendam a voz do eterno aviso: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não anda nas trevas”.
De novo Natal, não uma rotina ou mera repetição. Natal é a esperança renovada, que se exprime na singeleza dos presépios dentro dos lares, a relembrar o despojamento da gruta, ou na festividade das luzes coloridas a brilhar por toda parte ou nas árvores carregadas de festões e frutos reluzentes, anunciando coisas novas e belas, iluminadas de esperança. O Menino Deus está presente, ainda que muitos queiram ignorá-lo, como os desatentos hospedeiros de Belém. Natal é esta doce alegria, que acalma a dor dos sofredores, suaviza a angústia dos amargurados, inunda de calma as almas inquietas, abre caminho certo para os homens estonteados e sem rumo.
Outra vez Natal. Foi por isto que Ele quis aparecer despido do Seu manto real, despojado daquela extasiante glória que um dia arrebataria a Pedro, Tiago e João. E veio CRIANÇA, tendo por roupagem a carne mortal, envolto em pobres paninhos, como se o mais indigente fosse entre todos indigentes. Humilde e inocente, no seio virginal da Rainha desconhecida, Jesus Cristo, Rei dos reis, Senhor dos senhores, Deus verdadeiro que assumiu a pequenez humana para que o homem assumisse a grandeza divina, é o mistério portentoso que o Natal recorda ao mundo. Quem não sente? É o convite à paz, à harmonia, à fraternidade, que entre pela porta de nossa casa na canção dos Anjos anunciando a velha certeza de tantos séculos: Ele nos ama e quer a todos salvar, sem excluir ninguém. “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Daí que Natal é, por excelência, tempo de ação de graças, porque a todos que o receberam Ele deu o singular e régio poder de se tornarem filhos de Deus. E se d’Ele todos são agora filhos, irmãos são todos, de todas as raças, daí nascendo a esperança de que o amor volte a unir a humanidade e desse amor volte a paz a reinar na Terra. Assim, neste amor e nesta paz, que vêm do Alto, é o Feliz Natal que eu desejo a todos.